“O desafio é manter o interesse do público”, diz Alcides Nogueira sobre “I Love Paraisópolis”

Os autores Mário Teixeira e Alcides Nogueira
Os autores Mário Teixeira e Alcides Nogueira
















Na próxima segunda-feira (11), a Globo se volta para a estreia de “I Love Paraisópolis”, nova trama das sete, que trará à telinha a segunda maior comunidade de São Paulo como principal cenário. O RD1 conversou com o autor Alcides Nogueira, que divide a autoria do folhetim com Mário Teixeira.
Com mais de 30 anos de carreira na emissora, Alcides já escreveu folhetins como “O Amor Está no Ar” (1997), “Ciranda de Pedra” (2008) e “O Astro”, premiado pelo Emmy como melhor novela de 2011. Há um ano e meio ele trabalha na sinopse de “I Love”.  O autor admite que a história passou por várias mudanças para se adaptar ao horário, mas nega a troca de protagonista.
“Nós sempre pensamos em duas protagonistas (tanto na versão das 18 quanto na das 19 horas). A novela conta a historia de duas irmãs: Mari (a Bruna Marquezine) e a Danda (a Tatá Werneck)”, revelou. No enredo, as duas são irmãs inseparáveis. “Uma dá a vida pela outra”, descreve Nogueira.
O dramaturgo falou ainda sobre a ausência de Ana Paula Arósio nas novelas, a baixa audiência de “Babilônia”, o preconceito do público com os personagens homossexuais e o futuro da dramaturgia.
Confira a entrevista na íntegra:
RD1 – Você passou o carnaval escrevendo cenas da trama. Como está a rotina atualmente? E como é a parceria com o Mário Teixeira?
Alcides Nogueira - Na verdade, Mário e eu estamos já há mais de um ano e meio trabalhando nesse projeto. Passamos o carnaval e muitos feriados escrevendo. Mas confesso: com alegria e entusiasmo. A novela nos motiva. Mário é um grande parceiro. Não tenho como definir precisamente como é a rotina, pois, nesse início de novela, escrevemos todos os capítulos. Claro que os colaboradores ficaram “colados” o tempo todo, assim como os pesquisadores, lendo, fazendo observações, montando a memória da novela – que é muito importante. A partir da estreia, todo mundo estará escrevendo. A divisão de trabalho muda muito conforme as necessidades de cada momento.
RD1 – Você já foi colaborador do Silvio de Abreu em novelas como “Deus nos Acuda” (1992) e “A Próxima Vítima” (1995). Como é ter um trabalho avaliado pelo fórum liderado pelo autor. Vocês discutiram juntos temas da trama?
Alcides Nogueira - Colaborei com o Silvio em cinco novelas (“Rainha da Sucata”, “Deus nos Acuda”, “A Próxima Vítima”, “Torre de Babel” e “As Filhas da Mãe”)… Além disso, ele foi o meu supervisor em “O Amor Está no Ar”, de 1997, que considero a minha primeira novela como titular, pois “De Quina pra Lua” era baseada em uma sinopse do Benedito Ruy Barbosa. Além da imensa admiração que tenho por ele, o tempo criou laços de afeto e amizade entre nós. Mas isso não muda nada, pois ele é muito profissional… E nossa amizade está acima e ao largo do trabalho. Silvio é O cara! Está no lugar certo, na hora certa. Fora sua grande experiência, seu talento… tem um trânsito muito fácil com todos os autores, atores, diretores, produtores… A Globo acertou em cheio criando esse cargo. “I Love Paraisópolis” já estava aprovada quando ele assumiu. Mesmo assim, generosamente o Silvio conversou bastante comigo e com o Mário Teixeira. Essa troca de figurinhas é muito saudável. Nossas conversas foram diretas, transparentes, sempre buscando o melhor para a novela.
Bruna Marquezine grava com Tatá Werneck em Nova York
Bruna Marquezine grava com Tatá Werneck em Nova York
RD1 – Inicialmente, o projeto de “I Love Paraisópolis” era para a faixa das 18h, mas após uma mudança de planejamento da Globo, o folhetim passou para as 19h, que tradicionalmente aposta no humor. Houve alguma alteração na sinopse?
Alcides Nogueira - Sim, era uma novela para as 18h. Mas o Manoel Martins e a Monica Albuquerque, que tinha acabado de assumir o DAA (Departamento de Acompanhamento Artístico), acharam, acertadamente, que a historia tinha uma pegada muito forte de humor. E propuseram a mudança para as 19 horas. Mário e eu topamos, pois, realmente, a historia é uma comedia romântica. Por conta disso, mexemos bastante na sinopse. E foi bom! A historia encorpou… criamos novos núcleos… Foi bacana!
RD1 – O que mudou com a troca de protagonista? E o que o público pode esperar da dupla Mari (Bruna Marquezine) e Danda (Tatá Werneck)?
Alcides Nogueira - Essa pergunta é ótima para esclarecer uma versão que circulou bastante pela mídia, e não é verdadeira! Nós sempre pensamos em duas protagonistas (tanto na versão das 18 quanto na das 19 horas). A novela conta a historia de duas irmãs: Mari (a Bruna Marquezine) e a Danda (a Tatá Werneck). As duplas sempre funcionam muito bem na teledramaturgia. Nessa novela, o público verá duas garotas muito interessantes: assertivas, alegres, batalhadoras, engraçadas… As duas não são irmãs biológicas. Foram criadas juntas. E são grandes amigas. Uma dá a vida pela outra. Bruna e Tatá formam uma dupla adorável. Ao menos, nós achamos (risos). Tomara que o espectador também. A família delas é uma delícia. A mãe, Eva, é Soraya Ravenle, uma atriz maravilhosa… E o pai é o Juju, o incrível Alexandre Borges.
Ana Paula Arósio em "Ciranda de Pedra"
Ana Paula Arósio em “Ciranda de Pedra”
RD1 – Há alguns meses, circularam notícias na imprensa de que Ana Paula Arósio teria sido escalada para “I Love”. O convite realmente aconteceu?
Alcides Nogueira - Pura especulação. Mas dá pra entender. Mário e eu nos damos muito bem com ela. Ana Paula fez comigo e Maria Adelaide a minissérie “Um Só Coração”, e, comigo, “Ciranda de Pedra”. Com o Mario, ela fez “Os Ossos do Barão”. Fora que ela também se dá otimamente com os diretores Carlos Araújo e Wolf Maya. Mas nenhum de nós entrou em contato com ela. Ana Paula está em outra. Nunca nos passou pela cabeça invadir a privacidade dela. Só espero que um dia ela volte para a televisão. É uma grande atriz. Uma diva!
RD1 – Substituir um sucesso é um sonho de qualquer autor, já que com o horário em alta as chances de a nova trama conquistar o público são maiores, e também um enorme desafio, uma vez que as expectativas são grandes. Quais são suas apostas?
Alcides Nogueira - Isso é verdade. Daniel Ortiz está entregando o horário com ótima audiência. “Alto Astral” foi muito bem. O desafio é manter o interesse do público. Você colocou bem o dilema: bela herança, mas grande expectativa!
RD1 – A Globo vem diminuindo a duração de suas novelas. “Sete Vidas”, por exemplo, chegará ao fim com pouco mais de cem capítulos. Você acredita que esse formato é o futuro da dramaturgia?
Alcides Nogueira - Tomara que seja. Eu acho que todo mundo sai ganhando: os autores são mais poupados, as historias ficam enxutas, ágeis… E tenho a impressão de que o público gosta desse formato.
RD1 – “I Love” apresentará ao público elementos novos da dramaturgia. Aparenta ser uma novela muito moderna. Como conciliar a inovação com o folhetim clássico?
Alcides Nogueira - Só dá para ser assim. O folhetim é essencial para qualquer novela se desenvolver. É ele que nos fornece os arquétipos de mocinhas, bandidos, vilões… Traça as linhas das historias românticas… Mas o mundo está mudando cada vez mais rapidamente. Há outros discursos, outras narrativas, novos olhares… Experimentar por experimentar é arriscado… Mas, se a novela conseguir juntar esses pilares clássicos com as novas formas de linguagem, o resultado pode ser bem interessante. “I Love Paraisópolis” é moderna, sim. Mas Mário e eu não abrimos mão dos sentimentos humanos, da realidade, do afeto que liga as pessoas…
Letícia Spiller e Frank Menezes em cena de "I Love Paraisópolis"
Letícia Spiller e Frank Menezes em cena de “I Love Paraisópolis”
RD1 – A novela terá um personagem gay, o Junior (Frank Menezes), que fará o mordomo da vilã Soraia (Letícia Spiller). Como você reage à intolerância por parte do público por causa de personagens homossexuais? Existe uma fórmula de tocar no assunto sem causar incômodo?  
Alcides Nogueira - Essa intolerância é monitorada pela onda conservadora que vem tomando conta não só do país, mas do mundo… E isso é um retrocesso. Não só com relação à temática gay, mas também quando queremos tocar na injúria racial, na questão da mulher… De qualquer forma, ela está aí (muito menor do que apregoada, mas fazendo muito barulho nas redes sociais). Há, sim, como tocar em todos esses temas com leveza. O Sílvio conseguiu isso em “A Próxima Vítima”. Apesar de um dos atores ter sido agredido na época, o público se afeiçoou ao casal Jéferson e Sandrinho… Aguinaldo conseguiu isso com o Crô (foi feito até um filme na sequência)… E o Félix, de “Amor à Vida”, que era um vilão terrível, se transformou no personagem mais amado da novela. O Junior é um personagem carismático, que será defendido por um ator excepcional. O talento do Frank Menezes é inquestionável. Esperamos que as maldades desse vilão caiam no gosto do público.
RD1 – “Babilônia” vem sofrendo várias mudanças por conta da baixa audiência. Você tem acompanhado a trama?
Alcides Nogueira - Gosto muitíssimo de “Babilônia”. O primeiro capítulo foi um show! Não sei exatamente a razão da baixa audiência. Em minha casa, ela é um sucesso!
RD1 – Segundo informações da imprensa, você e Mário Teixeira já entregaram à direção da Globo o projeto de uma nova novela para a faixa das 18h. A informação procede?
Alcides Nogueira - Na verdade, antes de “I Love Paraisópolis”, Mário e eu entregamos três sinopses (para novela e minissérie). Aconteceram grandes mudanças na emissora. Os projetos estão lá. Mas precisam ser retrabalhados, sem dúvida. Só que isso, hoje, nem passa por nossas cabeças. Estamos totalmente focados em “I Love Paraisópolis”, dando o nosso melhor para que o público goste da trama.
Fonte: RD1
“O desafio é manter o interesse do público”, diz Alcides Nogueira sobre “I Love Paraisópolis” “O desafio é manter o interesse do público”, diz Alcides Nogueira sobre “I Love Paraisópolis” Reviewed by oficialantenados on 22:02 Rating: 5

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